04 julho 2006

O pintor morreu...

Hoje voltei a sonhar com a tua partida,
Sinto que vais partir antes de mim, sem mim,
E que eu vou ficar mais tempo.

O comboio a partir
Já nem consigo distinguir
A tua farda e a cabeça rapada
No meio de tantas outras.

O tempo não passa,
Tu é que passas por ele,
Sem nunca lhe pedir para ele me levar até ti...

A toalha branca na mesa,
Parece agora mais branca de solidão,
E a tua pele cada vez mais negra,
Do cativeiro solar.

As minhas mãos na água,
Os lençois do teu leito magmático a lavar,
Os nossos segredos e teias a secar,
Pelo contar dos anos,
O teu cheiro a desaparecer do meu mundo,
Pelo contar dos meses.

Vejo o carteiro a chegar,
Trazendo a notícia de que nunca mais vais voltar,
Perdido na selva da glória,
Nas luzes da ribalta,
Não há guerras, não há histórias para contar.
Apenas eu, sózinha nesta cidade amaldiçoada,
Fechada no teu olhar, já sem luz.

E a tua linhagem terminou,
Pintor, nem em mim deixaste em vez de sangue a tinta de teus quadros.
Em mim só retrataste mágoas,
E agora me aniquilas, sem me eternizar.

Permanecem as tuas telas, os teus pinceis,
Que me vão lembrando da tua vaga existência,
Do teu vago beijo da despedida,
Que talvez tenhas relembrado
Quando a bala te tirou a vida...

2 comentários:

António Sengo disse...

não resisti, tive q comentar este tbm... tá 1 espetaculo!!!! liiiiiindo de morer... beijos, beijos****** e mais beijos*

António Sengo disse...

epa :'( assim não dá!! como é obvio ñ podia deixar de comentar este, porque um poema tão lindo, sem coment nenhum é um atentado!! pra mim este é sem dúvida o melhor de todos os que li no teu blogão!! lolol... txi dóruh*