Tenho medo,
Terror de mim próprio,
Porque não consigo caminhar justamente,
Porque me perdi
E já não me encontro.
Tenho terror porque estou só,
Porque o barulho é tanto e a água vai subindo,
Porque já ninguém me salva,
De mim próprio,
Da minha mente,
Imaginação,
Fértil em perversão.
Tenho dias, talvez meses,
Mas tenho que fugir desta pele que me consome,
Desta carne que me queima,
E encontrar aquela outra alma,
Que este corpo fez abandonar.
Agora é muito mais difícil,
Deitei as minhas armas fora,
Estou sem protecção,
Apenas tenho as minhas mãos,
Que só servem para me asfixiar.
As marés estão desordenadas,
O vento está contra mim,
A minha boca tem medo das alturas,
Os meus olhos aterrorizam-se com a destruição,
Já não sabem distinguir o real da ficção.
Preciso encontrar-Te,
Aniquilar-me e
Renascer...
25 agosto 2006
Psicologia
Invadidos pelo tal sentimento
De quando aquele cheiro,
A terra molhada nos inunda,
Perdemos as forças,
Caímos de joelhos,
Fazemos perguntas,
Gastamos lágrimas,
Suspiramos mudanças.
Ficamos acordados até chegar a madrugada,
Até sentirmos saudades dos antigos amigos,
Aqueles que nunca nos telefonaram,
Que nunca chegámos a tocar,
Mas com quem compartilhamos alegrias secretas e silêncios públicos,
A eles amámos e eles nos amaram.
Agora somos insensíveis,
Perdemos o Norte,
Não vivemos, nem sequer respiramos,
Apenas vagueamos nas asas do desejo,
De sermos melhores.
Queriamos tanto pegar-lhe ao colo,
Limpar-lhe as lágrimas,
Pedir-lhe desculpa,
Protejê-la de nós e deste mundo cruel,
Que não lhe deu a meninice,
Nem sonhos realizáveis,
Queriamos-lhe cantar:
"Mamã, mamã,
Onde estás tu, mamã?
Nós sem ti não sabemos, mamã,
Libertar-nos do mal..."
Queremos amar-te, mamã...
De quando aquele cheiro,
A terra molhada nos inunda,
Perdemos as forças,
Caímos de joelhos,
Fazemos perguntas,
Gastamos lágrimas,
Suspiramos mudanças.
Ficamos acordados até chegar a madrugada,
Até sentirmos saudades dos antigos amigos,
Aqueles que nunca nos telefonaram,
Que nunca chegámos a tocar,
Mas com quem compartilhamos alegrias secretas e silêncios públicos,
A eles amámos e eles nos amaram.
Agora somos insensíveis,
Perdemos o Norte,
Não vivemos, nem sequer respiramos,
Apenas vagueamos nas asas do desejo,
De sermos melhores.
Queriamos tanto pegar-lhe ao colo,
Limpar-lhe as lágrimas,
Pedir-lhe desculpa,
Protejê-la de nós e deste mundo cruel,
Que não lhe deu a meninice,
Nem sonhos realizáveis,
Queriamos-lhe cantar:
"Mamã, mamã,
Onde estás tu, mamã?
Nós sem ti não sabemos, mamã,
Libertar-nos do mal..."
Queremos amar-te, mamã...
11 agosto 2006
Voz
Também quando Govinda olhou para aquele rosto
Aquele rosto já cansado e velho,
Aquele rosto calmo e simples, que tantas formas tomava
Também ele viu a minha face, os meus olhos,
Que tal como os do novo Sublime procuram o verdadeiro Eu, a Unidade.
Também ele viu o meu nascimento, a minha juventude, a minha velhice, a minha morte,
Mas não em separado,
Quando olhou para o rosto do Sublime e viu todas aquelas faces,
Quando olhou para aquele rosto ancião e viu a minha face,
Viu todas as coisas como uma continuidade,
Como toda uma roda da perfeição,
Como um.
O passado, o presente e o futuro não existiam naqueles rostos,
O tempo morreu naquela face,
O Sublime descobrira a Verdade,
E a Verdade somos todos nós,
A Verdade são todas as coisas,
A Verdade é uma só.
E em todas estas coisas ecoava uma só palavra,
Um só som,
Aquilo que os indianos chamam o Om sagrado,
Que não é mais do que o som do Universo,
A voz do Mundo e do seu povo de crianças, que são os homens,
A Verdade surgia assim:
O Perfeito Amor.
Aquele rosto já cansado e velho,
Aquele rosto calmo e simples, que tantas formas tomava
Também ele viu a minha face, os meus olhos,
Que tal como os do novo Sublime procuram o verdadeiro Eu, a Unidade.
Também ele viu o meu nascimento, a minha juventude, a minha velhice, a minha morte,
Mas não em separado,
Quando olhou para o rosto do Sublime e viu todas aquelas faces,
Quando olhou para aquele rosto ancião e viu a minha face,
Viu todas as coisas como uma continuidade,
Como toda uma roda da perfeição,
Como um.
O passado, o presente e o futuro não existiam naqueles rostos,
O tempo morreu naquela face,
O Sublime descobrira a Verdade,
E a Verdade somos todos nós,
A Verdade são todas as coisas,
A Verdade é uma só.
E em todas estas coisas ecoava uma só palavra,
Um só som,
Aquilo que os indianos chamam o Om sagrado,
Que não é mais do que o som do Universo,
A voz do Mundo e do seu povo de crianças, que são os homens,
A Verdade surgia assim:
O Perfeito Amor.
05 agosto 2006
Baunilha
O Outro subiu a rua sem olhar para trás,
Mas onde estavam os meus braços para o ir abraçar?
O espanto do Outro é maior que o Mundo,
Ao olhar os pés.
O amor do Outro pelas coisas é simples,
E não questiona.
O Outro engolia a sua Coca-Cola fresca de notícias,
Mas não as compartilhou,
Ouviu e guardou.
O Outro não sabe o que são espelhos,
Nunca se viu reflectido e por isso não faz comparações.
O Outro é mais olhos que boca,
E aquilo que vê não sabe descrever.
O outro não és Tu,
Mas parece que apenas te amo,
A Ti.
Mas onde estavam os meus braços para o ir abraçar?
O espanto do Outro é maior que o Mundo,
Ao olhar os pés.
O amor do Outro pelas coisas é simples,
E não questiona.
O Outro engolia a sua Coca-Cola fresca de notícias,
Mas não as compartilhou,
Ouviu e guardou.
O Outro não sabe o que são espelhos,
Nunca se viu reflectido e por isso não faz comparações.
O Outro é mais olhos que boca,
E aquilo que vê não sabe descrever.
O outro não és Tu,
Mas parece que apenas te amo,
A Ti.
02 agosto 2006
No entando não se pode matar um morto.
Esperei aquele homem antes que tivesse um nome, um rosto, quando não era mais do que a minha longínqua infelicidade.
Não olhei os homens a não ser como se olham os passantes diante do guiché de uma estação, a fim de termos a certeza de que não são aquilo que esperamos.
Foi por ele que a minha ama me enfaixou ao sair da minha mãe; foi para fazer as contas de ser lar de homem rico que aprendi o cálculo na ardósia da escola. Para pavimentar a estrada onde se pousaria talvez o pé desse desconhecido que faria de mim sua serva, teci lençóis e estandartes de ouro; à força de aplicação, deixei cair aqui e ali, sobre o tecido macio, algumas gotas do meu sangue.
Consenti em fundir-me no seu destino, como um fruto na boca, para não lhe trazer senão a sensação de felicidade.
Vós não o conhecestes senão engrandecido pela glória, epécie de enorme ídolo gasto pelas carícias das mulheres asiáticas. Apenas eu o frequentei na sua época de deus. Era-me doce, sobrecarregada com o peso da semente humana, pousar as mãos sobre o meu ventre espesso onde cresciam os meus filhos. À noite, de regresso da caça, lançava-me com alegria contra o seu peito de ouro. Mas os homens não são feitos para passar toda a cida a aquecer as mãos na fogueira de um mesmo lar: ele partiu para novas conquistas, e deixou-me ali como uma casa vazia cheia do bater de um grande relógio.
O tempo passado longe dele corria sem emprego, gota a gota ou por torrentes, como sangue perdido, deixando-me em cada dia mais empobrecida de futuro.
Os anos seguiam-se ao longo das ruas desertas como uma procissão de viúvas; a praça da aldeia estava negra de mulheres de luto. Eu invejava essas infelizes o não terem senão a terra por rival, e de saberem pelo menos que o seu homem dormia sozinho.
Substituia-me pouco a pouco ao homem que me fazia falta e pelo qual estava possuída.
Infiel áquele homem, imitava-o ainda.
Não há senão um homem no mundo: o resto não é para uma mulher senão um erro ou um triste mal menor. E o adultério não é muitas vezes mais do que uma forma desesperada de fidelidade. Se enganei alguém foi esse pobre Egisto. Tinha necessidade dele para saber até que ponto aquele que eu amava era insubstituivel.
Não olhei os homens a não ser como se olham os passantes diante do guiché de uma estação, a fim de termos a certeza de que não são aquilo que esperamos.
Foi por ele que a minha ama me enfaixou ao sair da minha mãe; foi para fazer as contas de ser lar de homem rico que aprendi o cálculo na ardósia da escola. Para pavimentar a estrada onde se pousaria talvez o pé desse desconhecido que faria de mim sua serva, teci lençóis e estandartes de ouro; à força de aplicação, deixei cair aqui e ali, sobre o tecido macio, algumas gotas do meu sangue.
Consenti em fundir-me no seu destino, como um fruto na boca, para não lhe trazer senão a sensação de felicidade.
Vós não o conhecestes senão engrandecido pela glória, epécie de enorme ídolo gasto pelas carícias das mulheres asiáticas. Apenas eu o frequentei na sua época de deus. Era-me doce, sobrecarregada com o peso da semente humana, pousar as mãos sobre o meu ventre espesso onde cresciam os meus filhos. À noite, de regresso da caça, lançava-me com alegria contra o seu peito de ouro. Mas os homens não são feitos para passar toda a cida a aquecer as mãos na fogueira de um mesmo lar: ele partiu para novas conquistas, e deixou-me ali como uma casa vazia cheia do bater de um grande relógio.
O tempo passado longe dele corria sem emprego, gota a gota ou por torrentes, como sangue perdido, deixando-me em cada dia mais empobrecida de futuro.
Os anos seguiam-se ao longo das ruas desertas como uma procissão de viúvas; a praça da aldeia estava negra de mulheres de luto. Eu invejava essas infelizes o não terem senão a terra por rival, e de saberem pelo menos que o seu homem dormia sozinho.
Substituia-me pouco a pouco ao homem que me fazia falta e pelo qual estava possuída.
Infiel áquele homem, imitava-o ainda.
Não há senão um homem no mundo: o resto não é para uma mulher senão um erro ou um triste mal menor. E o adultério não é muitas vezes mais do que uma forma desesperada de fidelidade. Se enganei alguém foi esse pobre Egisto. Tinha necessidade dele para saber até que ponto aquele que eu amava era insubstituivel.
M.Y.
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