31 julho 2006
Mentiras
Cortaste a própria língua
Para não revelares os segredos que não tens.
Porque te custa assim tanto ouvir a verdade?
Uma palavra serve para te cortar a razão.
Já não te conheço,
Tens medo.
E de quê? De mim?
As minhas mentiras são-te mais agradáveis
Do que a verdade do meu coração.
Este ar gélido que me trespassa o corpo
Faz-me ver que ainda existo para além das tuas mãos,
Para além dos teus lábios,
Muito para além da tua voz,
Porque poucas vezes me pronuncias na sofreguidão da noite.
Para ti todos os dias são areia,
Cada grão passa como tantos outros, não deixando rasto,
Na enormidade do deserto.
Para ti todas as noites são vitórias,
Glórias de guerras que nunca travaste,
Porque tu nunca pegaste em armas,
Porque tu nunca acertaste no teu próprio ventre.
E se para mim todas as lutas são com a minha lingua,
Com as minhas visceras,
Sendo eu presa fácil das minhas angústias,
As mentiras são a minha causa de morte,
Porque para ti a verdade tem sempre um preço,
Nem que seja de ver os teus olhos rebaixarem-se á luz da calçada,
E deixares-me apedrejada pelas minhas próprias palavras.
27 julho 2006
De tanto chorar o meu coração quebrou...
Acordei e começaram a cair estrelas do céu,
Caiam sobre a minha casa,
E eu via toda a minha familia de luto,
Via toda aquela gente transfigurada
E a música do assobio lá ao longe.
Sentia-me imunda, inerte
Fui até à rua e o fogo caia sobre mim,
Deixava-me inundar daquele ardor.
Estava a ver a minha vida,
O meu egoísmo, minha tristeza,
Infeliz que eu era enquanto as estrelas caiam sobre a minha cabeça.
O dia do juízo virá, e eu?
Quem serei eu?
Faz-me mal, eu sei...
Não sei aproveitar bem.
Não o consigo salvar, ele não me ouve,
Não me consigo salvar, eu já não vejo.
As estrelas cegaram-me.
Só sinto o meu fim.
Sentia que era este ano, no calor das estrelas,
Sem antes algum dia eu brilhar.
Não vou voltar para aquele lugar obscuro,
Naquele funeral macabro de mim mesma.
Prefiro ser queimada pelas estrelas,
E ver de que é feito o meu corpo.
Mesmo que não seja de diamantes,
Ao menos não será de cinza, de pó da terra.
Que caiam as estrelas do céu,
Esmaguem a terra,
Que eu sairei a correr,
Sairei na esperança de encontrar salvação,
Ainda que no meio da escuridão da cegueira.
Caiam sobre a minha casa,
E eu via toda a minha familia de luto,
Via toda aquela gente transfigurada
E a música do assobio lá ao longe.
Sentia-me imunda, inerte
Fui até à rua e o fogo caia sobre mim,
Deixava-me inundar daquele ardor.
Estava a ver a minha vida,
O meu egoísmo, minha tristeza,
Infeliz que eu era enquanto as estrelas caiam sobre a minha cabeça.
O dia do juízo virá, e eu?
Quem serei eu?
Faz-me mal, eu sei...
Não sei aproveitar bem.
Não o consigo salvar, ele não me ouve,
Não me consigo salvar, eu já não vejo.
As estrelas cegaram-me.
Só sinto o meu fim.
Sentia que era este ano, no calor das estrelas,
Sem antes algum dia eu brilhar.
Não vou voltar para aquele lugar obscuro,
Naquele funeral macabro de mim mesma.
Prefiro ser queimada pelas estrelas,
E ver de que é feito o meu corpo.
Mesmo que não seja de diamantes,
Ao menos não será de cinza, de pó da terra.
Que caiam as estrelas do céu,
Esmaguem a terra,
Que eu sairei a correr,
Sairei na esperança de encontrar salvação,
Ainda que no meio da escuridão da cegueira.
Última Hora
Só penso em ti
A minha televisão já nem funciona,
Deixei de estar ligada aos acontecimentos
Só estou ligada a ti.
Ela viola-me a alma,
Incrimina-me de todos os crimes
Sobrevoa a minha vida
Com uma frase de amor.
Como o mosquito sobrevoa a minha cama
Todas as noites sem cessar,
Na esperança instintiva de arranjar uma gota de sangue,
Por mais amarga que seja.
E alimenta-se, dia-a-dia,
Ficando em mim a borbulha,
A reacção alergica às suas acusações.
Nunca me peças tu o preço que ela exige,
Seria um amor tão caro como a vida
Mas por ti talvez a daria...
A minha televisão já nem funciona,
Deixei de estar ligada aos acontecimentos
Só estou ligada a ti.
Ela viola-me a alma,
Incrimina-me de todos os crimes
Sobrevoa a minha vida
Com uma frase de amor.
Como o mosquito sobrevoa a minha cama
Todas as noites sem cessar,
Na esperança instintiva de arranjar uma gota de sangue,
Por mais amarga que seja.
E alimenta-se, dia-a-dia,
Ficando em mim a borbulha,
A reacção alergica às suas acusações.
Nunca me peças tu o preço que ela exige,
Seria um amor tão caro como a vida
Mas por ti talvez a daria...
26 julho 2006
Depois de mim
Onde andas tu meu anjo?
E onde anda o meu olhar?
Que nem os meus olhos te beijam,
Nem o meu Deus me deixa amar...
Por ser eu mortal
E tu infinito
A minha vida traz me o sal
Desse mar que é o meu grito.
Por o nosso amor
Não encontrar o seu porto,
O meu refúgio é o meu mundo,
Onde tudo parece morto.
Não vai haver ninguém que faça chover assim...
Depois de mim...
Eu já não existo...
E onde anda o meu olhar?
Que nem os meus olhos te beijam,
Nem o meu Deus me deixa amar...
Por ser eu mortal
E tu infinito
A minha vida traz me o sal
Desse mar que é o meu grito.
Por o nosso amor
Não encontrar o seu porto,
O meu refúgio é o meu mundo,
Onde tudo parece morto.
Não vai haver ninguém que faça chover assim...
Depois de mim...
Eu já não existo...
ET
Estrela, estrela
Como ser assim?
Tão só, tão só
E nunca sofrer.
Brilhar, brilhar
Quase sem querer
Deixar, deixar
Ser o que se vê.
No corpo nu da constelação
Estás, estás sobre uma das mãos
E vais e vens como um lampião
Ao vento frio de um lugar qualquer.
É bom saber que és parte de mim
Assim como és parte das manhãs.
Melhor, melhor é poder gozar
Da paz, da paz que trazes aqui.
Eu canto, eu canto
Por poder te ver
No céu, no céu
Como um balão
Eu canto e sei que também me vês
Aqui, aqui com essa canção.
Gastei os trunfos
O canto do vento
O cerrar dos dentes
Desfeitos em raiva.
Almanaque dos disturbios
Minha alma vive dividida,
Entre a divindade ilusória e a ilusão da realidade.
Se não é por eles que vou ser feliz,
Por quem será?
Só vejo numa linha,
E estou presa
As cordas desse cifrão têm-me amarrada.
Mas porque é que a minha morte
Havia de ser injustiçada
Por um punhado de moedas?
Sigo o caminho frio
Em busca do ouro
E prossigo.
Não sei o futuro,
Não sei o fim desse jogo,
Já não sinto o fogo em mim...
O cerrar dos dentes
Desfeitos em raiva.
Almanaque dos disturbios
Minha alma vive dividida,
Entre a divindade ilusória e a ilusão da realidade.
Se não é por eles que vou ser feliz,
Por quem será?
Só vejo numa linha,
E estou presa
As cordas desse cifrão têm-me amarrada.
Mas porque é que a minha morte
Havia de ser injustiçada
Por um punhado de moedas?
Sigo o caminho frio
Em busca do ouro
E prossigo.
Não sei o futuro,
Não sei o fim desse jogo,
Já não sinto o fogo em mim...
24 julho 2006
Meninas
Têm que compreender:
Que as doze badaladas são o fim;
Que os olhos se inundam muito mais vezes;
Que tudo é muito mais frágil;
As dores são sempre maiores;
A morte é sempre mais cruel;
Que as horas são sempre efémeros segundos;
Que a vida é uma eterna prisão;
Que o prazer tem sempre castigo;
Que há sempre um pecado;
Nunca salvação;
Que a manhã é pesada e brusca;
Que os ombros têm mais responsabilidades;
Que as mãos carregam os traumas dos outros;
Que os sonhos são sempre ficção;
Que os homens só fazem feridas;
Mas a menina é que se torna no vilão.
Que as doze badaladas são o fim;
Que os olhos se inundam muito mais vezes;
Que tudo é muito mais frágil;
As dores são sempre maiores;
A morte é sempre mais cruel;
Que as horas são sempre efémeros segundos;
Que a vida é uma eterna prisão;
Que o prazer tem sempre castigo;
Que há sempre um pecado;
Nunca salvação;
Que a manhã é pesada e brusca;
Que os ombros têm mais responsabilidades;
Que as mãos carregam os traumas dos outros;
Que os sonhos são sempre ficção;
Que os homens só fazem feridas;
Mas a menina é que se torna no vilão.
14 julho 2006
Juncos Silvestres
Lisboa hás de ser sempre só,
Hás-de sempre parecer irreal,
Hás-de sempre alimentar esperanças e de matar paixões,
No acto supostamente mais puro das coisas.
Lisboa, hás-de sempre ter essas casas
Que me parecem sempre minhas
Sem nunca as ter habitado,
Hás-de sempre me mostrar esse meu lado mais honesto, mais lusitano.
Mas esse fado que encerras nas tuas ruas,
Essa pobreza que quer trespassar a alma,
Há sempre de me levar à fatalidade,
A um erro que, num minuto, te retira essa tua atmosfera de progresso.
Lisboa, lembras-me a saudade que tenho de mim,
E agora sinto esta tristeza
De não te voltar a encontrar.
O encontro na mística de azul e rio...
05 julho 2006
04 julho 2006
O pintor morreu...
Hoje voltei a sonhar com a tua partida,
Sinto que vais partir antes de mim, sem mim,
E que eu vou ficar mais tempo.
O comboio a partir
Já nem consigo distinguir
A tua farda e a cabeça rapada
No meio de tantas outras.
O tempo não passa,
Tu é que passas por ele,
Sem nunca lhe pedir para ele me levar até ti...
A toalha branca na mesa,
Parece agora mais branca de solidão,
E a tua pele cada vez mais negra,
Do cativeiro solar.
As minhas mãos na água,
Os lençois do teu leito magmático a lavar,
Os nossos segredos e teias a secar,
Pelo contar dos anos,
O teu cheiro a desaparecer do meu mundo,
Pelo contar dos meses.
Vejo o carteiro a chegar,
Trazendo a notícia de que nunca mais vais voltar,
Perdido na selva da glória,
Nas luzes da ribalta,
Não há guerras, não há histórias para contar.
Apenas eu, sózinha nesta cidade amaldiçoada,
Fechada no teu olhar, já sem luz.
E a tua linhagem terminou,
Pintor, nem em mim deixaste em vez de sangue a tinta de teus quadros.
Em mim só retrataste mágoas,
E agora me aniquilas, sem me eternizar.
Permanecem as tuas telas, os teus pinceis,
Que me vão lembrando da tua vaga existência,
Do teu vago beijo da despedida,
Que talvez tenhas relembrado
Quando a bala te tirou a vida...
Sinto que vais partir antes de mim, sem mim,
E que eu vou ficar mais tempo.
O comboio a partir
Já nem consigo distinguir
A tua farda e a cabeça rapada
No meio de tantas outras.
O tempo não passa,
Tu é que passas por ele,
Sem nunca lhe pedir para ele me levar até ti...
A toalha branca na mesa,
Parece agora mais branca de solidão,
E a tua pele cada vez mais negra,
Do cativeiro solar.
As minhas mãos na água,
Os lençois do teu leito magmático a lavar,
Os nossos segredos e teias a secar,
Pelo contar dos anos,
O teu cheiro a desaparecer do meu mundo,
Pelo contar dos meses.
Vejo o carteiro a chegar,
Trazendo a notícia de que nunca mais vais voltar,
Perdido na selva da glória,
Nas luzes da ribalta,
Não há guerras, não há histórias para contar.
Apenas eu, sózinha nesta cidade amaldiçoada,
Fechada no teu olhar, já sem luz.
E a tua linhagem terminou,
Pintor, nem em mim deixaste em vez de sangue a tinta de teus quadros.
Em mim só retrataste mágoas,
E agora me aniquilas, sem me eternizar.
Permanecem as tuas telas, os teus pinceis,
Que me vão lembrando da tua vaga existência,
Do teu vago beijo da despedida,
Que talvez tenhas relembrado
Quando a bala te tirou a vida...
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