Gosto do silêncio
De manter a água na boca
A refrescar a solidão.
Detesto pensar que não lhe vou telefonar,
Que telefonarei a qualquer alguém
Menos a ele.
Gosto de escrever a vermelho,
Nas páginas lisas deste meu sofoco.
Ainda não te ofereci o meu presente,
Mas com tanta coisa mais importante
Esqueces que fiquei ao frio e ao vento,
De chinelas, só para te voltar a abraçar.
E deves estar a cair de moribundo,
Todo aquele calor artificial a percorrer-te o corpo,
Mas gostas,
E esqueces o cansaço.
E aquele alguém deve estar como eu,
Entre quatro paredes trancado,
A comer do pó dos livros,
A beber da chuva de Verão.
Porém escolhi-te,
Até o meu café ficar gelado,
Até as minhas mãos ficarem quentes,
Tão quentes que não suportam agarrar as tuas.
E faz dez anos, que o outro alguém partiu,
No meio do anónimato,
No meio do nada, como ele pediu,
E só hoje conheci a sua verdadeira casa,
Só hoje consegui abrir a sua gaveta,
E deixar a flor,
A sua flor ficou, em mim.
Pelo menos está em mim
E fica.
A David Ferreira
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