26 junho 2006

Dele não digam mal nem bem, porque ele está acima do bem e do mal...

Fui à tua procura,
E subi o jardim, virei na esquina,
Entrei pela porta da tua suposta casa,
Estava lá toda a gente,
E eu procurava-te, no meio daquela pequena multidão,
Onde estavas?

Por mais que chamasse por ti apenas via uma pequena parte do teu todo,
Por mais que rebuscasse em mim o teu sentido
Só conseguia pensar-te no meio daquele pinhal,
À beira-mar, calmo e mudo.
Nem uma palavra nem um gesto,
Apenas o olhar,
Aquele olhar de quem nada desconhece,
Mas que precisa de fazer todas as perguntas possiveis,
Precisa de obter todas as respostas.

E a tua casa estava quase morta,
A tua chama quase apagada,
O fogo caía do céu.
Fugi, escapei,
Ou então fui engolida por um mal maior,
Não sei...

Não me arrependo de ter andado perdida,
Sei que ainda existes, apesar da tua casa ter ardido,
O tempo está a acabar, mas eu encontro-te,
Ali, tão perto,
Quando vou andando de costas voltadas para o futuro,
E o vejo, naquela sua felicidade.

Então, conversamos durante a viagem,
Falas-me das catástrofes naturais, dos lugares que costumas visitar,
Eu ouço, deixei de gostar de falar de mim.
Ouço com atenção, e sei que enquanto falas ouves todo o meu pensamento.
Enquanto falas sabes-me do principio ao fim.

É assim que te vejo, outra vez...
Compreendes-me, e lamentas a minha condição,
Mas que importância têm aquelas noites no alto
Comparadas com todo o meu intímo,
Com toda a ordem geral do Universo?

Despeço-me...
Gostei de te ver assim.
Toco a campainha,
Insistes ainda em comentar a condição dos teus sete palmos de terra,
De que me darás ainda uma noite como outras passadas em mim.
Desço do autocarro, vejo-te partir...

Passo a estrada,
Sinto o vento,
Sinto-me reconfortada...
Tinha saudades Tuas.

19 junho 2006

Indie Little Star

Nunca me olhas
Nunca me escutas
Nunca me beijas
Nunca me disfrutas
Nunca me respondes.

Sempre me desprezas
Sempre me silencias
Sempre me evitas
Sempre me agonizas
Sempre me questionas.

Porque tu queres que eu seja,
Porque eu nada sou,
Porque tu és simplesmente,
Porque eu não atinjo o que és,
Porque tu perguntas sempre: Porquê?

Alguém me ouviu?


Oh quão silênciosa é a minha vida,
Ele, o eterno Silêncio, presênciou o meu nascimento,
E encarnou em mim.
Em mim está o eterno Silêncio.

A minha voz calada, imunda,
Que alguém pôs dentro deste corpo
Não consegue superar o conforto
De dois lábios aparentemente cerrados,
Aparentemente inócuos.

Mas é então, nestes dedos gélidos,
Que ao tremor maquiavélico
Se pronunciam e se revelam,
Que permanece a força dessa muda voz.

É nas minhas palavras agudas
Na minha escrita desnuda
Que morre a minha voz,
E permanece esse sofoco atroz
De calar a amargura e a vontade
De te estimar.

17 junho 2006

Nós temos cinco sentidos: são dois pares e meio de asas.




Gosto do silêncio
De manter a água na boca
A refrescar a solidão.
Detesto pensar que não lhe vou telefonar,
Que telefonarei a qualquer alguém
Menos a ele.

Gosto de escrever a vermelho,
Nas páginas lisas deste meu sofoco.
Ainda não te ofereci o meu presente,
Mas com tanta coisa mais importante
Esqueces que fiquei ao frio e ao vento,
De chinelas, só para te voltar a abraçar.

E deves estar a cair de moribundo,
Todo aquele calor artificial a percorrer-te o corpo,
Mas gostas,
E esqueces o cansaço.

E aquele alguém deve estar como eu,
Entre quatro paredes trancado,
A comer do pó dos livros,
A beber da chuva de Verão.

Porém escolhi-te,
Até o meu café ficar gelado,
Até as minhas mãos ficarem quentes,
Tão quentes que não suportam agarrar as tuas.

E faz dez anos, que o outro alguém partiu,
No meio do anónimato,
No meio do nada, como ele pediu,
E só hoje conheci a sua verdadeira casa,
Só hoje consegui abrir a sua gaveta,
E deixar a flor,
A sua flor ficou, em mim.
Pelo menos está em mim
E fica.

A David Ferreira

Lacrimosa

Naquela noite subia lentamente as escadas,
E a tempestade, os raios, os relâmpagos
As grossas gotas que lhe escorriam pela face,
Tudo foi presságio do crime.

A pistola na mala, o sangue na camisola,
As mãos e o corpo suado de ter abafado uma vida
Entre gestos fúteis, inúteis, imundos.

O corpo no sofá petrificado,
As almofadas sujas, a camisa, o casaco,
O copo no chão, o whiskey entornado,
A janela aberta deixando entrar a madrugada,
Para apagar os vestígios do perfume.

E descia a rua, depois da porta trancada,
Quase nua, transfigurada,
Só guardava no peito o retrato
Do amante que havia aniquilado.

Estava feliz, havia trovoada,
A luz era irregular e chuva era escassa.
E depois de entrar no táxi despreocupada,
Chorou contente,
A sentença estava tomada.

07 junho 2006

I wanna die...

It's not unusual to be loved by anyone
It's not unusual to have fun with anyone
It's not unusual to see you cry,
It's not unusual to go out at any time
It's not unusual, to be mad with anyone
It's not unusual, to be sad with anyone
It's not unusual to find out that I'm in love with you...

06 junho 2006

Contigo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérora redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

SMB

04 junho 2006

Lenda


Os pés voavam
As cinturas apertadas pelas mãos,
O calor, os cabelos.

Os ritmos acelaravam,
O alcool corria,
Veia a veia,
Bombardeando os corpos de sentido.

Não havia pares,
Não havia música,
Não havia chão,
Apenas solidão.

Somos todos crescidos,
Chegamos tarde,
Não lavamos loiça,
Somos egoístas.

Bebemos, fumamos
Temos muitos amigos,
Não precisamos de ninguém faminto
Por receber.

Chegamos uns para os outros,
Dançamos na ilusão,
Pulamos de tristezas,
Vivemos de incertezas.

Quando vai parar,
Quando nos vão sussurar de novo
A mais linda música de encerrar a consciência?

Quem nos dera que a luz faltasse!

01 junho 2006

Day 1 - The Last one

Waves, then goodbye
I live in a wafer thin dream
I, I can cry
You know that time, time's not kind

But I remember the way we were
Slow, slow sad love
I wonder do you miss my love
I know you can't
It's just a wave passing over me

What are these waves?
They're coming over me
It must be my destiny
Waves, coming by
Goodbye, goodbye

What are these waves?
They're coming over me
It must be my destiny

Praga

Relembrar-te é como suster a respiração.
Recordar-te, naqueles dias, é como mergulhar
E deixar a água percorrer-me os pulmões, as veias, o coração.

Ter em minha mente o desejo do teu toque,
Do teu compromisso, é como caminhar sobre as pedras
Abandonadas à beira-mar,
Daquele mar que não nos diz nada.

A tua roupa, o teu caminhar,
Voltar atrás só para abraçar o momento,
Fazer votos,
Sonhar o futuro incompleto.

Tenho saudades desse frio,
Do gelar da racionalidade,
Saudades do calor da tua pele, do fervilhar da tempestade,
Na intemporalidade dos nossos ideais.

Que escondes tu
Por entre esses dedos,
No teu crânio primitivo
E brusco?

Há sempre uma palavra entre nós,
Uma ou talvez milhares delas,
Mas as palavras são pedras
E eu não as quero voltar a pisar.

Satisfazes-me na humilhação,
Compreendes-me pela separação,
Perturbas-me com a tua alegria.
Reencaminhas-me para a velha chama,
Para a mesma brisa,
Da mesma maneira que me dizes: "Vai!"

E eu deixo, e doi-me tanto,
Mas calo e vou continuando,
Vou gastando, vou amando.