03 outubro 2006
Ensaio sobre a Cegueira
Seguindo a luz apagada
Do sol que apenas se sente
Na pele arrepiada
Pelo medo da solidão cegada.
Entre corredores,
Paredes mal pintadas,
Portas de celas fechadas,
Pianos abandonados pelo tempo.
As escadas,
Interminável sofoco,
Esmagam a cada passo meio louco.
Os sons, os odores, o tacto,
A descoberta do mundo
Pelos sentidos mais adormecidos,
A descoberta daquilo que tão facilmente descobrimos,
De olhos bem abertos,
Agora saboreado, desvendado,
Até ao ínfimo detalhe do toque,
E sempre de olhos vendados.
As recordações a que isto transporta,
Desde ecrãs cinematográficos,
Hospitais abandonados,
Até ao Ensaio sobre a Cegueira de Saramago,
Na qual, a única diferença entre essa ficção e a nossa realidade,
É que eles, os cegos, viam em branco,
E nós, apenas o preto, vermelho e laranja tocamos.
Não estamos doentes,
Somos apenas alunos da Sensibilidade.
E quando abrimos os olhos e tiramos a venda,
Já não sabemos quem éramos,
Rimos e choramos,
Fingimo-nos felizes,
Fingimo-nos de parvos,
Mas no fim de contas somos crianças ângustiadas,
Que não sabem representar.
Somos inconstantes,
Já não sabemos sentir as coisas impalpáveis,
Porque não se podem tocar,
Já não há significado para o agir,
Quanto menos para o pensar.
Estamos cegos e vazios.
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