Não quero que toques as minhas coisas
Que vasculhes as minhas gavetas,
Que deixes marcas em todo o meu corpo,
Em cada lugar por onde passes na minha vida,
Porque talvez um dia eu fique só,
E vou ver-te em todas as impressoes que deixaste,
E vais doer-me,
Porque fui incapaz de me sustentar com o teu modesto carinho.
Por isso vai, não deixes rasto,
Não te quero seguir até ao fim,
Quero caminhar a teu lado.
07 outubro 2006
Serenata - Tratamento de um Mal-amado
Permita-me que eu feche os meus olhos,
Pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas uma demora,
E cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
Que me conforme em ser sózinha.
Há uma doce luz no silêncio
E a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
Para um céu maior que este mundo,
E aprenda a ser dócil no sonho
Como as estrelas no seu rumo.
CM
Dialética
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizivel emoção
É claro que te acho linda,
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste.
VM
E a alegria, a única indizivel emoção
É claro que te acho linda,
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste.
VM
03 outubro 2006
Ensaio sobre a Cegueira
Seguindo a luz apagada
Do sol que apenas se sente
Na pele arrepiada
Pelo medo da solidão cegada.
Entre corredores,
Paredes mal pintadas,
Portas de celas fechadas,
Pianos abandonados pelo tempo.
As escadas,
Interminável sofoco,
Esmagam a cada passo meio louco.
Os sons, os odores, o tacto,
A descoberta do mundo
Pelos sentidos mais adormecidos,
A descoberta daquilo que tão facilmente descobrimos,
De olhos bem abertos,
Agora saboreado, desvendado,
Até ao ínfimo detalhe do toque,
E sempre de olhos vendados.
As recordações a que isto transporta,
Desde ecrãs cinematográficos,
Hospitais abandonados,
Até ao Ensaio sobre a Cegueira de Saramago,
Na qual, a única diferença entre essa ficção e a nossa realidade,
É que eles, os cegos, viam em branco,
E nós, apenas o preto, vermelho e laranja tocamos.
Não estamos doentes,
Somos apenas alunos da Sensibilidade.
E quando abrimos os olhos e tiramos a venda,
Já não sabemos quem éramos,
Rimos e choramos,
Fingimo-nos felizes,
Fingimo-nos de parvos,
Mas no fim de contas somos crianças ângustiadas,
Que não sabem representar.
Somos inconstantes,
Já não sabemos sentir as coisas impalpáveis,
Porque não se podem tocar,
Já não há significado para o agir,
Quanto menos para o pensar.
Estamos cegos e vazios.
01 outubro 2006
Se tudo fosse saudade...
Nas mãos teriamos malas de viagem,
Onde guardariamos restos de momentos perdidos
Na estação de comboio, na fábrica abandonada, na casa desabitada.
Na carne teríamos corpos celestes
Que se atrairiam à medida que o Universo
Pontualmente curvo se dispersava incessantemente
No nada que ninguém criou...
Se tudo fosse saudade só te diria que te quero aqui...
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